Tese mapeia ruas de BH que homenageiam militantes contra a ditadura
Pesquisa da Psicologia mostra como o ato simbólico de nominar um logradouro público contribui para a construção de uma memória social
Nomes de logradouros públicos comumente reverenciam figuras que tiveram sua relevância reconhecida pela sociedade. Políticos, artistas, jogadores de futebol, várias são as referências já escolhidas para nomeação de uma rua. No entanto, é incomum que a maioria das pessoas saiba quem foram algumas das pessoas cujo nome batiza um logradouro.
Essa foi uma das motivações da pesquisadora Jaíza Rocha, doutora em Psicologia pela UFMG, para investigar a relação entre os nomes de logradouros da cidade de Belo Horizonte e o regime militar brasileiro (1964-1985). Em quatro etapas, a pesquisa levantou dados sobre a forma como se deram as homenagens aos militantes políticos de oposição à ditadura nos logradouros públicos de Belo Horizonte, bem como a relação da população desses locais com esses atos, analisando aspectos da construção da memória social sobre o período.
A autora identificou 200 logradouros, espalhados pelas nove regionais, objetos de homenagem a militantes políticos de Belo Horizonte. Para esse levantamento, Jaíza empreendeu esforço de pesquisa documental tomando como ponto de partida o livro Rua viva, homônimo do projeto pioneiro da capital mineira, de autoria do ex-vereador Betinho Duarte.
Longe do Centro
Por meio da análise do material coletado, Jaíza observou que os logradouros com as homenagens estão localizados em bairros novos da cidade, o que torna possível a nomeação das novas ruas.
Em sua maioria, esses logradouros estão localizados nas bordas da cidade, em bairros que fazem divisa com municípios da região metropolitana. Nesses lugares, são comuns disputas municipais em torno de responsabilidades públicas em relação a saneamento básico, urbanização e outros aspectos infraestruturais. Simultaneamente, a pesquisa constatou que na região central da cidade, onde há maior fluxo e circulação de pessoas, existem poucos logradouros nomeados em homenagem a personalidades que se opuseram ao regime militar.
Mapa interativo
Como produto final da tese, Jaíza Rocha formulou um mapa interativo, em que constam 20 logradouros nominados para homenagear pessoas, a região em que estão localizados e uma pequena biografia de cada um dos militantes políticos reverenciados.
De acordo com a pesquisadora, o intuito com a construção do mapa era o de “registrar esses lugares na cidade e tornar conhecidos e acessíveis os locais de homenagem e os homenageados, a partir de uma visão panorâmica”.
Ainda no estágio de projeto de pesquisa, o estudo foi premiado, em 2016, como Melhor trabalho na categoria de pós-graduação, no 4º Simpósio Internacional de Psicologia Social, da Associação para o Desenvolvimento da Psicologia Social (Adeps). Neste ano, o trabalho foi indicado pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia para concorrer ao Prêmio Capes de Teses.
Em entrevista à TV UFMG, a pesquisadora Jaíza Cruz deu detalhes sobre os resultados de sua pesquisa – Entre ruas e avenidas: memória e representações sociais do período militar (1964-1985) em Belo Horizonte/MG – e a relação entre memória histórica, representações sociais, o silenciamento e o esquecimento, que estão no cerne das disputas intergrupais.
Equipe: Pablo Paixão (produção e reportagem), Ângelo Araújo (imagens), Marcia Botelho (edição de imagens) e Ruleandson do Carmo (edição de conteúdo)