Documentário da TV UFMG retrata os 21 anos das ações afirmativas na Universidade
Política alcança a maturidade em 2023, com o desafio de obter, na chave ‘permanência’, o mesmo sucesso alcançado na dimensão 'acesso'
A política de ações afirmativas na UFMG alcançou a sua maioridade em 2023, ao completar o seu 21º aniversário. Motivada pela efeméride, a TV UFMG produziu um documentário sobre essas duas décadas de luta pela eliminação, na Universidade, das desigualdades historicamente acumuladas no país – em particular, a desigualdade de caráter étnico-racial, que ganha a sua expressão mais perversa nas diferentes manifestações de racismo cotidiano.
Com 36 minutos, o vídeo traz entrevistas com diferentes atores dessas duas décadas de luta. A começar pela pedagoga Nilma Lino Gomes, professora emérita da Faculdade de Educação, cujo nome se confunde com a própria luta por justiça racial nas universidades do país. Ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos durante o último ano do governo de Dilma Rousseff, Nilma lembra, no documentário, que a iniciativa de ações afirmativas na UFMG nasce como um projeto de extensão, em 2002, para, só mais tarde, ser institucionalizada pela Universidade.
Nilma faz um panorama das discussões legais empreendidas nessas últimas duas décadas sobre o combate ao racismo e às desigualdades raciais no país, situa as ações afirmativas como um projeto que nasce “na” UFMG, para só mais tarde se tornar um programa “da” UFMG, e relaciona a ascensão de todo esse debate à eleição de Lula, naquele ano, para a presidência do Brasil.
“É um governo que chega comprometido com as lutas dos movimentos sociais”, afirma Nilma. “Até 2002, nós não tínhamos na UFMG uma discussão efetiva sobre o que significavam as ações afirmativas, sobre o que significava essa política para o ensino superior, principalmente com o aprofundamento na questão racial, ou seja, para negros e negras.” A partir daquele ano, ela lembra, tudo começou a mudar.
Os detalhes dessa história de transformação são contados na produção, na qual foram entrevistados, além de Nilma, Natalino Neves da Silva, coordenador do Programa Ações Afirmativas da UFMG, Rodrigo Ednilson, presidente da Comissão Permanente de Ações Afirmativas e Inclusão Social da Universidade, Luiza Datas, coordenadora do DCE, e Lúcia Aparecida, servidora técnico-administrativa do Teatro Universitário (TU).
Da entrada à permanência
Em sua entrevista, Rodrigo Ednilson lembrou que, em 2003, apenas 18% dos estudantes de graduação da UFMG eram negros (pretos e pardos) autodeclarados, enquanto os brancos somavam 73%. Já em 2010, essa proporção havia mudado para 45% negros e 52% brancos. “Ainda não estamos no lugar em que queríamos estar, mas não estamos mais no lugar em que queriam que nós estivéssemos”, sintetiza o presidente da Comissão Permanente de Ações Afirmativas e Inclusão Social. “Estamos alguns passos à frente”, demarca o professor. Luiza Datas, coordenadora do DCE, complementa: “Ainda existe muita coisa para ser mudada nessa estrutura. Agora que temos um processo consolidado de entrada nas universidades por meio das cotas, é preciso fortalecer o processo de permanência.”
O roteiro, a direção e a produção do documentário da TV UFMG são de Olívia Resende e Soraya Fideles, a edição de imagens, de Marcelo Duarte, e o videografismo, de Bruno Ihara. Ângelo Araújo, Lucas Tunes, Ravik Gomes e Samuel do Vale são os cinegrafistas que trabalharam na captação de imagens. Os deslocamentos dessa equipe pela Universidade foram conduzidos por Pedro Campos, motorista do Centro de Comunicação (Cedecom) da UFMG.