UFMG abre discussões de avaliação dos processos seletivos para a graduação
Ideia inicial é conciliar o Enem e um vestibular seriado, com a aplicação de exames nos três anos do ensino médio; objetivo principal é fortalecer a aproximação com a educação básica
A UFMG deu início, após aprovação do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) em reunião no dia 22 de junho, a discussões para avaliação de seus processos seletivos para graduação. Será examinada a possibilidade de a Universidade adotar o vestibular seriado, que consiste na aplicação de exames ao fim de cada uma das três séries do ensino médio. A intenção é que o vestibular seriado seja uma forma alternativa de seleção, que conviva com a modalidade que utiliza o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Antes da apresentação ao Cepe, o assunto foi tratado em reunião estendida da Câmara de Graduação realizada em 1º de junho, que teve participação de titulares e suplentes, coordenadores de colegiados de curso e Núcleos Docentes Estruturantes, chefes de departamento, diretores de unidades acadêmicas e gestores de diversos setores da Administração Central.
Se aprovada a proposta após as discussões, a expectativa é que os exames possam ser aplicados em dezembro de 2024, para alunos do primeiro ano do ensino médio. Assim, os primeiros estudantes selecionados por meio do vestibular seriado ingressariam na Universidade no primeiro período letivo de 2027. O percentual de vagas destinado a cada processo seletivo ainda será discutido, e será sempre respeitada a Lei de Cotas.
O processo de avaliação seriada já é utilizado por instituições como a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Universidade Federal de Lavras (Ufla). Várias outras estão, no momento, discutindo essa alternativa.
Reflexão sobre processos seletivos
“Após dez anos da adesão ao Sisu, não podemos deixar de fazer essa reflexão”, afirma a reitora Sandra Regina Goulart Almeida. “A UFMG busca formas de adaptar seu processo seletivo às novas necessidades da sociedade, e essas alternativas devem refletir sua relevância para a educação, com base em visão ampliada, que inclui a educação básica”, acrescenta. Segundo ela, é preciso se atentar à maneira como as características dos processos seletivos adotados pela Universidade podem influenciar o ensino médio, especialmente nas escolas da rede pública, com as quais a UFMG precisa dialogar.
“Assim como todos os processos, a seleção de nossos estudantes deve ser guiada por seus valores, como equidade, relevância e excelência, e reforçar nosso compromisso com a redução das desigualdades educacionais. A UFMG quer ser protagonista nas transformações necessárias para uma sociedade mais justa”, avalia o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira.
Até 2013, a UFMG preparava e aplicava seus próprios vestibulares (a partir de 2011, a primeira etapa foi substituída pelo Enem). Em 2014, a Universidade aderiu ao Sisu, exceção feita para cursos que demandam processos seletivos específicos, como os do campo das artes e três cursos de licenciatura (Formação Intercultural de Educadores Indígenas [Fiei], Licenciatura em Educação no Campo [Lecampo] e Letras-Libras).
Compromisso com a educação básica
De acordo com estudos realizados na UFMG, o vestibular seriado deverá propiciar maior interação com as escolas de ensino médio de Belo Horizonte, Montes Claros e cidades próximas. “A nova modalidade de seleção tem grande potencial de se tornar mais uma ponte sólida de articulação da UFMG com a educação básica. É importante que a Universidade forneça referências para as escolas de educação básica, especialmente para o ensino médio. A intenção é valorizar uma aprendizagem contextualizada e interdisciplinar, contribuindo para uma formação crítica e cidadã”, afirma o pró-reitor de Graduação, Bruno Otávio Soares Teixeira.
O professor informa que o objetivo é cobrar dos candidatos, na avaliação seriada, uma formação geral básica no ensino médio. Com o processo seletivo próprio, destaca Bruno Teixeira, os professores conhecerão melhor os estudantes que chegarão à Universidade, porque os avaliarão anualmente ao elaborar e corrigir as provas. Além disso, segundo o pró-reitor, “a UFMG ganhará melhores condições de contribuir para o contínuo aprimoramento do Enem, que tem papel muito relevante para a educação em nosso país”.
As discussões envolverão toda a comunidade acadêmica. Representantes das redes de educação básica serão convidados a participar das conversas com vistas à implementação do vestibular seriado. Gestores e professores de universidades que já utilizam o modelo também serão ouvidos.
Integraram a comissão que avaliou processos seletivos para novas vagas na UFMG os professores Cristina Alvim, da Faculdade de Medicina, Elton Antunes, da Fafich, Luiz Machado, da Escola de Engenharia, e José Francisco Soares, emérito da UFMG e vinculado ao Instituto de Ciências Exatas (ICEx) e à Faculdade de Educação (FaE).