Ensino

Estudantes indígenas trazem novas cores para a UFMG

Há uma década e meia, maio e setembro são os meses em que a Universidade é mais ocupada por alunos aldeados

Fiei oferece quatro habilitações para os estudantes indígenas: Línguas, Artes e Literaturas; Matemática; Ciências da Vida e da Natureza; e Ciências Sociais e Humanidades
Fiei oferece quatro habilitações para os estudantes indígenas: Línguas, Artes e Literaturas; Matemática; Ciências da Vida e da Natureza; Ciências Sociais e Humanidades Foto: Raphaella Dias | UFMG

O estudante mais atento talvez já tenha reparado como o campus Pampulha está ainda mais colorido neste mês de setembro. Desde o fim de agosto, a Faculdade de Educação (FaE) está recebendo os alunos da Formação Intercultural para Educadores Indígenas (Fiei), curso em regime de alternância destinado exclusivamente a indígenas aldeados.

O curso forma e habilita professores indígenas em licenciatura plena para lecionar nas diferentes áreas de concentração do fim do ensino fundamental e no ensino médio. “O graduado sai licenciado em formação intercultural para formadores indígenas, de modo a atuar como professor tanto das escolas indígenas de seus territórios como em escolas de fora”, explica a professora Vanessa Sena Tomaz, coordenadora-geral do curso.

O aumento pontual dessa presença dos estudantes no campus Pampulha ocorre porque a Fiei funciona em regime de alternância pedagógica, composto por duas etapas: a intermediária, em que os indígenas estudam em seu próprio ambiente de atuação e vivência, o território indígena, e a etapa intensiva, em que eles vêm para o campus Pampulha para dois ciclos anuais de atividades na FaE.

Em cada um desses ciclos, os alunos passam cinco semanas na UFMG, em imersão. No primeiro período letivo do ano, essa imersão ocorre de abril a maio; no segundo, de agosto a setembro. “O curso recebe 35 novos alunos por ano, mas essas imersões ocorrem para todos os que estão cursando a formação em todos os períodos, então acaba sendo uma turma bem grande. Hoje são 140 estudantes”, contabiliza Vanessa.

O encontro para a abertura desse ciclo de imersão do segundo semestre de 2023 ocorreu no fim de agosto, em um conjunto de atividades de pesquisa, ensino e extensão realizadas na FaE. A abertura das atividades ocorreu em uma cerimônia realizada no estacionamento principal da unidade. As imagens do encontro, captadas pela fotógrafa Raphaella Dias, do Centro de Comunicação da UFMG, estão reunidas em uma galeria no fim desta matéria. Quinze fotos foram escolhidas para marcar os 15 anos que a Fiei completa neste ano de 2023.

Alcance social

Professora Vanessa Sena Tomaz é a atual coordenadora-geral do curso
Professora Vanessa Sena Tomaz é a atual coordenadora-geral do curso Foto: Foca Lisboa | UFMG

A Formação Intercultural para Educadores Indígenas oferta quatro habilitações: Línguas, Artes e Literaturas; Matemática; Ciências da Vida e da Natureza; Ciências Sociais e Humanidades. Como curso regular, ela teve o seu primeiro vestibular em 2008, com ingresso em 2009, e desde então vem abrindo vagas todos os anos.

“Este é um curso com um alcance social muito grande, com resultados importantíssimos no que diz respeito ao fortalecimento educacional indígena”, demarca Vanessa Tomaz. Segundo ela, o curso tem hoje concentração maior de estudantes de Minas Gerais – em particular, do povo Xakriabá, que vive nas imediações do Rio São Francisco, no município de São João das Missões.

“Mas, além deles, temos também representantes dos Pataxós, dos Xukuru-Kariri, dos Maxakali, dos Krenak. Temos também um grupo bem grande que vem do sul da Bahia, de Porto Seguro, de Prado. E também alunos que vêm do povo Guarani do Rio Grande do Sul”, lista.

História
A rigor, a Fiei já vinha sendo ofertada na forma de projeto desde 2006; o que ocorreu em 2008 foi a sua aprovação e institucionalização no âmbito do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), criado em 2007 com o objetivo de impulsionar o crescimento do ensino superior público.

O Reuni, por sua vez, foi instituído como sequência de uma iniciativa de reinvestimento no crescimento do ensino superior público que remonta a 2003, quando, no âmbito de um novo ciclo no governo federal, teve início um processo de interiorização dos campi das universidades públicas.

De modo geral, os resultados de todo esse movimento foram o forte incremento das vagas disponibilizadas nos cursos de graduação, a ampliação da oferta de cursos noturnos, a promoção de significativas inovações pedagógicas (seara em que se situa a criação da Fiei) e a realização de ações para o combate à evasão e para a reocupação de vagas ociosas – entre outras medidas (políticas de inclusão, programas de assistência estudantil etc.) visando à mitigação das desigualdades sociais no país no tocante ao acesso à educação pública.

Ciclo imersivo do Fiei no campus Pampulha

Ewerton Martins Ribeiro